Ismael Solé quer planejamento turístico para o Theatro Sete de Abril

11 jan Ismael Solé quer planejamento turístico para o Theatro Sete de Abril

Theatro Sete de Abril foi interditado pelo Ministério Público Federal está há mais de cinco anos fechado.

Profissional com 50 obras no currículo crê na força da Metade Sul (Foto: Infocenter DP)
Profissional com 50 obras no currículo crê na força da Metade Sul (Foto: Infocenter DP)

O problema da gestão do Theatro Sete de Abril não se refere apenas às portas fechadas há mais de cinco anos. Na verdade, é esta a consequência de uma falta de planejamento turístico que utilize de boa forma o status que tem o teatro público de Pelotas de ser o mais antigo “em funcionamento” no Brasil. Essa é a opinião de Ismael Solé, arquiteto responsável pelo projeto de restauro do local. De passagem pela cidade na última semana, ele conversou com o caderno Zoom.

São mais de cinquenta teatros no currículo. Tudo se iniciou em 1979 com a restauração do Theatro São Pedro, cartão postal de Porto Alegre. Desde então passaram pela empresa gaúcha obras no Theatro Municipal de Paulínia, a Caixa Cultural de Recife, o Theatro José de Alencar, em Fortaleza e, mais recentemente, salas em shoppings como o Bourbon Country.

A ligação do arquiteto com o Theatro Sete de Abril data de antes da contratação para o projeto de restauro via licitação pública. Quando na presidência na Fundação Theatro Sete de Abril, a professora e artista Nina Paixão montou um plano de recuperação do prédio e chamou Solé para uma consultoria. Até então todas as iniciativas tomadas eram meramente cosméticas, diz ele, e neste momento se buscou ir ao centro dos problemas estruturais. “Tudo muito defasado. A cenotecnia, por exemplo, inexiste. Não há um equipamento, o palco é limpo e adaptado para o início do século 19”, comenta.

Muito falta
Para ele, entretanto, a explicação vem de passos muito anteriores: erra-se principalmente no planejamento estratégico. “Ele é um equipamento cultural muito importante. Pelotas teve teatro antes de Porto Alegre, é o teatro mais antigo do Brasil em atividade. São dados de muita relevância e que tem que saber usar. Aí sim um uso político”, argumenta.

O arquiteto lembra que a construção do Theatro São Pedro, na capital gaúcha, só se deu na década de 1850, na mesma época em que surgiram casas do mesmo gênero em capitais como Recife. Segundo ele, tal dado prova que Pelotas antes dos grandes centros sentiu a necessidade de um local voltado à cultura. “Remete à importância da cidade à maturidade cultural, à civilidade do município no início do século 19. O teatro é um templo disso tudo, é quando se sai da necessidade básica para começar a questionar”, diz, destacando ser necessário ter a medida do tamanho do Sete de Abril – algo que, acredita, nunca houve.

Para ele, os esforços para que o prédio volte a ser imponente não devem se restringir à Secretaria de Cultura, mas sim a uma ação conjunta com os setores de turismo e obras, por exemplo, para que se use o teatro como o início de uma nova era em que a Metade Sul – cita Jaguarão, Arroio Grande e Pedras Altas como outros sítios históricos interessantes na região – se valorize nesta área. “Há um patrimônio muito importante que não vê um plano de gestão econômica. Não se vê formas de enxergar esse patrimônio não como despesa, mas como fonte de riqueza. É um olhar que se precisa ter”, afirma.

Primeiro é necessário fazer uma reflexão das forças vivas da cidade para que todo o acervo se transforme também em um negócio, segundo o arquiteto. “Isso tudo envolverá hotelaria, restaurantes, criar novas rotas. O maior centro de turismo doméstico brasileiro é Gramado e Canela. E lá não tem nada do que tem aqui. Mas eles souberam gerir. Não precisamos imitar, mas olhar o que deu certo”, comenta. No caso específico do Sete de Abril, Solé diz que mais do que cobrar prefeitura e secretarias, é necessário que a população haja de forma independente para reerguer um prédio que, sendo público, é seu.

Demora normal
Já se vão cinco anos desde que o Theatro Sete de Abril foi interditado pelo Ministério Público Federal baseado em um laudo que apontava o comprometimento de seu telhado, bem como a estrutura de alvenaria. O relógio seguirá contando: 2016 será um ano marcado pela burocracia da aprovação do projeto elaborado por Solé junto ao Corpo de Bombeiros, o Sanep e o Instituto de Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do lançamento de uma licitação para colocá-lo em prática.

Segundo o arquiteto, a demora para a continuidade das obras é normal. Diz ele que a média de duração das reformas que participou vai de 6 a 8 anos e que é preferível que haja paciência na reconstrução do que o uso da pressa para que a reinauguração sirva pura e simplesmente como argumento eleitoreiro. Cita o restauro do Theatro São Pedro. Realizado em 1984, precisou não mais do que reparos pontuais desde então. Ele, entretanto, diz que acompanhará de perto os próximos passos para que seu projeto não sofra alterações, tendo em vista que todas suas partes são interligadas. “A parte de refrigeração, por exemplo, está diretamente associada com a exaustão de fumaça”, cita.

Por: Leon Sanguiné
leon.sanguine@diariopopular.com.br

Fonte: Diário Popular – Pelotas – 5 de janeiro de 2016

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